"Virinha", a avó que se tornou viral

Elvira de Oliveira Teixeira era, até há duas semanas, uma cidadã anónima.
Mas aos 70 anos, metade dos quais passados a trabalhar em França, esta mulher natural do concelho de Ourém e agora a viver em Caria, no município de Belmonte, tornou-se uma sensação na internet.
E ao contrário da maioria daqueles que procuram fama ou reconhecimento na rede, "Virinha", como lhe chamam carinhosamente os amigos e a família, conseguiu-o sem querer e sem esforço.


Tudo começou com um vídeo, colocado no YouTube a 28 de maio, que regista parte de um diálogo entre Elvira e um casal que viajava de carro da aldeia histórica de Sortelha para a Covilhã pela EN18 e que parou para lhe pedir indicações.
A conversa dispersa-se.
Começa com o lamento de uma placa mal colocada na estrada que induz os viajantes em erro, mas em apenas três minutos e 45 segundos ‘Virinha’ fala dos políticos locais, da televisão, da internet, do neto, de sexo e da falta dele, com jeito despachado e uma língua afiada que debita mais de três dezenas de palavrões e um sem-número de expressões impossíveis de reproduzir nestas páginas.

O condutor do veículo gravou a conversa e terá sido o próprio a colocá-la online no seu canal do YouTube, sob o título ‘A Verdadeira Mulher da Beira’.
Em apenas duas semanas o vídeo teve um milhão de visualizações e incontáveis partilhas nas redes sociais.
‘Virinha’ tornou-se numa avó viral.
Mais do que o discurso politicamente incorreto, o que parece cativar os internautas que comentaram o vídeo é a forma genuína como a residente em Caria se expressa.
"Eu sou assim desde pequenina.
As palavras saem-me de forma natural e não as digo com maldade.
Quando dizemos um palavrão algumas pessoas ficam logo a pensar em coisas maldosas, mas a maldade está é na cabeça de quem assim pensa", afirma à ‘Domingo’, que a encontrou à porta de casa com o marido a dar indicações a mais um turista que se enganou no cruzamento que fica mesmo em frente à sua propriedade.
"As pessoas vêm na estrada do Sabugal e não viram para a Covilhã e para a autoestrada porque o raio da placa em vez de estar posta antes do cruzamento está depois.
Isto arrasta-se há mais de um ano, ninguém faz nada e todos os dias há sempre alguém que se engana", assegura.
"Foi assim que esta coisa de eu ir parar à internet começou.
Por causa da má sinalização.
O casalito perdeu-se no caminho e pediu-me indicações e olhe… começámos a falar e as palavras começaram-me a sair como as cerejas: umas atrás das outras.
Eles acharam piada e gravaram, mas nem me apercebi disso, nem imaginei o que iam fazer com a gravação", explica.

Ainda assim, diz não ter levado a mal que o vídeo tenha sido publicado no YouTube.
"Sinto-me um pouco envergonhada porque não estou habituada a ser vista por tanta gente, mas não pelas palavras que usei.
Vergonha é roubar e ser corrupto como alguns políticos e banqueiros deste País", atira de seguida. "Aqui é que as pessoas são todas cheias de ‘não-me-toques’ e levam logo a mal quando dizemos uma asneira.
É por isso que eu gosto da gente do Norte.
São pessoas mais genuínas e que falam o português como eu.
Eram os meus melhores camaradas quando estive emigrada", diz, entre duas gargalhadas.

SINDICALISTA EM FRANÇA 
Assim que os amigos começaram a ver o vídeo, que se espalhou como fogo pelas redes sociais, começaram a chover telefonemas: "Além de França e de Portugal, já recebi chamadas a dizer que me tinham visto no Canadá, no Brasil e na Argentina. Mais uma vez, e como é hábito, lá consegui pôr os meus amigos todos a rir."
Quem não achou tanta piada, admite, foi a família mais próxima: "As minhas duas filhas e o meu neto não gostaram muito e ficaram envergonhados, mas eles já sabem que eu sou assim, que falo assim e que já não tenho idade para mudar.
Mas também sabem que só lhes quero bem, independentemente do que diga."
Já o marido, José, natural de Sortelha, e "camarada de quase 50 anos", continua a achar piada às expressões e ao tom cáustico com que a esposa as profere.
"Sempre teve esta alegria e esta forma de estar que põe toda a gente a rir.
E já nem a imagino de outra maneira", diz a sorrir.
Oriunda de família humilde da freguesia de Freixianda, Ourém, Elvira emigrou para França em 1965, com 19 anos. E durante os 35 seguintes trabalhou na cultura de cogumelos: "Passava os dias debaixo de terra, com uma lanterna na cabeça e uma bateria de três quilos às costas a apanhar os famosos champignons de Paris.
Chegava a fazer sete quilómetros por dia.
Era um trabalho duro, mas nunca fui mulher de ficar fechada em casa."
Socialista ferrenha, Elvira foi sindicalista em França e gaba-se de ter conhecido Georges Pompidou, Charles de Gaulle e François Mitterrand.
"Não falei com eles, mas estive na sua presença.
Todos grandes homens, sobretudo o Miterrand", diz.
Dos tempos em território gaulês, mais concretamente na região de Yvelines, nos arredores de Paris, diz guardar as melhores recordações mas desde que regressou a Portugal, em 2000, nunca mais pensou em voltar a sair: "A França foi a minha mãe. Foi quem me deu tudo o que hoje tenho.
Mas Portugal é que é o meu país. Amo-o e não o troco por nenhum outro."

UM VÍDEO SEM QUALQUER CENSURA 
"Desde que veio a internet é tanta p... e tanto cab... que eu nunca vi na minha vida."
Assim falou Elvira de Oliveira Teixeira numa conversa que foi gravada e colocada no YouTube, com o título ‘A Verdadeira Mulher da Beira’.
Os desabafos da septuagenária de foice em punho foram o segundo vídeo mais visto nos últimos dias em Portugal, introduzindo nas conversas termos como "pandeleiragem" e "tesos como um carapau"




Fonte: Correio da Manhã

Partilhar

Relacionados

Próximo
« Anterior
Anterior
Próximo »